A razão do sentir

Por que razão nos é sempre atribuido o epíteto de seres racionais e nunca de seres sentimentais, quando é no sentir, segundo a minha perspectiva, que reside a nossa preciosidade enquanto seres? Pelo menos em relação a mim própria, devo dizer que existo mais quando sinto do que propriamente quando penso, até porque pensar não é nada de tão extraordinário assim... Sentir, isso sim, é extraordinário... É orgásmico... E muitas vezes as coisas que sentimos são tão estranhas, tão perturbadoras que nem sequer as conseguimos explicar, ou seja, racionalizar. O universo do sentir faz tão parte de nós que às vezes faz de nós todo... E nem sempre o sentir é bom... Há a dor, o medo, e outros sentires sem nome que nos perseguem, nos desferem golpes invisíveis que nos magoam a alma e nos deixam à mercê de não haver remédio, a não ser talvez o tempo... ou a razão... Sim, a razão pode salvar-nos do mau sentir... Contar papéis distrai o sentimento... Mas, mesmo que, às vezes, preferíssemos não sentir, é a melhor definição de viver que eu conheço... Se olharmos para trás e quisermos encontrar os melhores momentos da nossa vida, certamente que estes nada têm a ver com o exercício da nossa racionalidade... Têm a ver com sentimento, com emoção... São momentos de felicidade, não porque pensamos estar felizes, mas porque sentimos estar felizes... As nossas melhores experiências são sempre resultantes do sentir, tenham o nome que tiverem, amor, amizade, gratidão... É claro que a razão também nos define, nos permite coisas como usar uma linguagem de forma a comunicarmos o que sentimos... Digamos que é uma ferramenta muito útil... Mas, para mim, é quando sentimos que somos gente, mesmo que não saibamos fazer contas...

Impressão digital

De dedo dado
Caminho a teu lado
Com muito cuidado
E luvas de algodão
É normal
Querer deixar uma boa impressao, não?
Será que dedo no dedo
Se vai perdendo o medo
Da mão na mão?
Acredites ou não
Gosto de ir devagar...
Porque quando chegamos
Parece que fomos ainda mais longe...
Mais longe e mais perto do coração...

É assim que te quero amar...

O vento passou e tu disseste que era mais um pretexto para eu ser mais tua...
As borboletas começaram a voar e tu balbuciaste que era para encher o meu coração de ti...
As flores vestiram-se de vermelho cristal e aroma de jasmim, para que numa valsa incrustada de um piano eu rodopiasse sob a luz intensa de cada retalho caleidoscópico...
Em silêncio o tempo suspenso na sua grandeza deixou o sol derreter os seus raios clandestinos num perfeito e memorável privilégio que é o teu beijo...

Deixo cair sobre o céu a morada de um coração sem receio

Voo até ti na esperança de pousar sobre o teu colo e de ouvir a história, justa de exacta duração, daquilo que somos.
Deixo cair sobre o céu a morada de um coração sem receio.
Deslizo nesta alquimia de luz respirando sensações de vertigem inventadas num estrondoso desejo de mergulhar numa água tão doce.

Saudades...


De onde me chegam estas palavras?
Nunca houve palavras para gritar a tua ausência...
Apenas o coração pulsando a solidão antes de ti...
Quando o teu rosto doia no meu rosto
E eu descobri as minhas mãos sem as tuas
E os teus olhos não eram mais que um lugar escondido
Onde a Primavera refaz o seu vestido de rosas...
E não havia um nome para a tua ausência...
Mas tu vieste...
Do coração da noite?
Dos braços da manhã?
Dos bosques do Outono?
Tu vieste...
E acordas todas as horas...
Preenches todos os minutos...
Acendes todas as fogueiras e escreves todas as palavras...
Um canto de alegria desprende-se dos meus dedos
Quando toco o teu corpo e habito em ti a noite que não existe
Porque as nossas bocas acendem na madrugada uma aurora de beijos...
Oh meu amor, doem-me os braços por não te poder abraçar...
Trago as mãos acesas, a boca desfeita e a solidão acorda em mim um grito de silêncio
Quando o medo de te perder é um pesadelo que pisa a minha alma
E se perde depois numa estrada deserta por onde caminhas...

Comprometa-se...

Se o que está a percorrer é o caminho dos seus sonhos, comprometa-se com ele... Não deixe a porta de saída aberta com a desculpa: Ainda não é bem isto que eu queria... Esta frase - tão utilizada - guarda dentro dela a semente da derrota... Assuma o seu caminho... Mesmo que precise dar passos incertos, mesmo que saiba que pode fazer melhor do que está fazendo... Se aceitar as suas possibilidades no presente, com toda certeza vai melhorar no futuro... Mas se negar as suas limitações, jamais se verá livre delas... Enfrente o seu caminho com coragem, não tenha medo da crítica dos outros... E - sobretudo - não se deixe paralisar pela sua própria crítica... Deus costuma usar a solidão para ensinar-nos a convivência... Às vezes, usa a raiva para que possamos compreender o infinito valor da paz... Outras vezes, usa o tédio, quando nos quer mostrar a importância da aventura e do abandono... Deus costuma usar o silêncio para ensinar-nos a responsabilidade do que dizemos... Às vezes, usa o cansaço para que possamos compreender o valor do despertar... Outras vezes, usa a doença quando quer nos mostrar a importância da saúde... Deus costuma usar o fogo para nos ensinar a água... Às vezes usa a terra para que possamos compreender o valor do ar... Outras vezes, usa a morte, quando quer nos mostrar a importância da vida... ...Os vencedores assumem compromissos, os perdedores fazem promessas...

A alma como ela é...

Um dia o sol disse-me: sempre que olhares para mim, reflecterei quem és... Não gostei... Virei as costas,deparei-me com um espelho, voltei e disse: tu não és água, não me poderei ver em ti... Disse-me ele: e na água podes?.. Voltei-me de novo, não vi água, mas o espelho continuava lá, olhei, fechei os olhos, e voltei a olhar, não vi... Pensei: "outra vez"... e... voltava a não estar... perguntei então ao sol: afinal... onde estou?.. Pensei: perdida talvez... Respondeu-me: não estás perdida, apenas não és o que os teus olhos veem nem o que qualquer espelho, água ou metal possa reflectir, és o que sentes e o que fazes de ti!.. Foi então que vi qualquer coisa, vi o sol e talvez me tenha visto a mim, por poucos segundos, mas vi... Não acredito no que vejo, não acredito no que oiço, ACREDITO no que ele diz, porque o que ele diz é sentir e sentir é a forma mais honesta e credível de nos vermos.....

Verídico final

A loucura é apenas uma questão de números... A realidade é apenas o resultado do que a maioria acha estar certo... O louco é apenas alguém que vive de forma diferente, comparativamente a essa maioria... Por isso, o louco é um Deus... Faz o seu caminho, segue os seus ideais... tem a coragem de ser sincero e diferente, de fazer o que lhe apetece, seguir as 'verdades' em que acredita... Se na terra dos 'sãos' o 'louco' é louco; então, uma vez, na terra dos 'loucos', o 'são' será o 'louco'... Porque tudo é uma questao de maioria... No fim, so o louco é livre... No fim, só o louco é são... No fim, só o louco viveu...

Rosa

Se procuras o toque da minha pele, aveludada como uma rosa, terás de suportar também os espinhos... Atreves-te sem receios?.. Posso ser tão macia como seda, mas tão selvagem quanto o pico que se te entranha na carne... Arriscas?.. Receberei nos lábios a seiva que corre depois da minha mordida, se me tocares... Deseja-lo?.. Então ousa e eu serei tua rosa inteira!..

Estarei sempre aqui...

Olha para mim
Deixa voar os sonhos
Deixa acalmar a tormenta
Senta-te um pouco
Olha para mim
Fica no meu abrigo
Dorme no meu abraço
E conta comigo
Que eu estarei aqui...

Enquanto anoitece
Enquanto escurece
Os brilhos do mundo
Cintilam em nós
Enquanto tu sentes
Que se quebrou tudo
Eu estarei
Sempre que te sentires só
Olha para mim
Hoje não há lágrimas
Hoje não há tristeza
Deixa sair o sol...

Olha pr mim
Fica no meu abrigo
Perde-te nos teus sonhos
E conta comigo...